domingo, 17 de abril de 2011

Série Biografias - Ali Ramiteni

Este, se Deus quiser, será uma série de postagens do blog exclusivamente dedicada as biografias de Shahabas (companheiros do Profeta Muhammad (s.a.a.s)), e dos sábios do Islam. Para começar, publico essa biografia de um dos discipulos do grande mestre Mahmoud Faghnawi, o mestre Ali Ramiteli nascido no que conhecemos hoje como Uzbequistão.

Ali Ramiteni

 
Ele tinha estatura mediana, com uma face agradável. Ele foi bem construído. Ele era um tecelão que preferia uma vida humilde. Ele gostava de estar com as pessoas comuns. No caminho Khawajagan da tariqa naqshbandi, ele foi chamado “Azizan”. Ele foi um santo completo que realizou maravilhas e tinha um status espiritual.
O décimo terceiro anel da cadeia dourada, Ali Ramiteni, conhecido como "Azizan", foi o segundo califa de Mahmud Faghnawi. Ele é o chefe do caminho Khawajagan que leva ao Shah Naqshbandi. Ele nasceu em Ramiten. Ramiten era uma grande cidade a 11 km de Bukhara. Foi lá que Ali Ramiteni foi treinado. Ele participou de palestras com eruditos do seu tempo. Ele foi também um tecelão. Ele foi contemporâneo de Sheikh Rukneddin Aluddevle Simnani e Seyyid Ata, que eram descendentes de Ahmed Yesevi. Depois de familiarizar-se com Mahmud Faghnawi, ele passou a segui-lo. O Nefehat e Reshehat narrou os eventos que ocorreram entre eles como histórias épicas.
Faghnawi, em seu leito de morte, confiou a Ali Ramiteni o direcionamento de seus irmãos na tariqa. Foi narrado que Ramiteni viveu uma longa vida e que tinha muitos murides (discípulos). Ele morreu em 721H/1321 d.C. seu tumulo é em Ramiten acerca de 40 km da aldeia de Incirbag, em Bukhara. Embora Cami, em sua Nefehat, diz que Mevlana Jalaludin Rumi referiou-se a Ali Ramiteni como nessac, ou seja, um tecelão, em uma de suas gazals, parece cronologicamente impossível, pois Mevlana morrerá cerca de quarenta anos (673H/1273d.C.) antes Ramiteni (721H/1321d.C.). Embora na tradução do Reshehat, Cami, que escreveu o Nefehat, é apresentado como filho de Ali Ramiteni, isto é errado.
Foi narrado que Ramiteni tinha um bom relacionamento com o Shah de Harezm. A história é a seguinte: Ao receber um sinal espiritual Ramiteni decidiu imigrar para Harezm. Quando ele chegou à entrada da cidade, ele enviou dois murides ao Shah para pedir permissão para ficarem na cidade, e ele disse: “Vão ao Shah. Digam que um pobre tecelão chegou a cidade e pede permissão para ficar. Se ele aceitar, o tecelão entrará; se não, o tecelão retornará. Se ele permitir, o tecelão pede um documento afirmando isso.”
Os dervixes realizaram seu pedido da carta. O Shah, que não estava acostumado a receber tais solicitações, num primeiro momento ficou surpreso. Então, ele concedeu o documento solicitado. Após os dervixes trouxerem o documento para o sheikh, ele entrou Harezm e se estabeleceu em uma casa em um bairro pobre. Depois de se mudar para a cidade, ele foi para o bazar aos empregados diaristas e disse-lhes: "Sua tarefa é executar imediatamente wudu (ablução) e participar de nossas palestras aqui até o anoitecer, e você será pago no momento da partida" Os trabalhadores aceitaram de bom grado esta oferta e gostavam de aderir às palestras. Ninguém queria abandonar as aulas depois que eles começaram a participar. A cada dia que passava, a casa do sheikh foi ficando cada vez mais lotada com a quantidade crescente de dervixes. Com a propagação da fama do sheikh em torno de Harezm e pessoas se reunindo ao redor dele, algumas pessoas invejosas queixaram-se para o Shah. Eles disseram: "Se esta situação continuar, em breve ele será Shah e você vai perder seu trono." O Shah de Harezm imediatamente ordenou que Ramiteni deixa-se Harezm. Mas Ramiteni respondeu: "Nós temos um documento que nos permite ficar na cidade e é assinado pelo Shah. Se o Shah nega sua assinatura, então, vamos deixar a cidade". O Shah visitou o sheikh para evitar tornar-se tão insignificante a ponto de negar sua própria assinatura. Quando confrontado pela grandeza do sheikh, o Shah foi atraído para ele e se juntou ao posto de seus seguidores.
O encontro com Simnani
O escritor do Reshehat nos informou que Ramiteni correspondeu-se com Alauddevle Simnani; diz-nos que Simnani enviou um emissário para Ramiteni com três perguntas. Estas são as perguntas (e suas respectivas respostas) que foram enviadas:
1ª Pergunta: ambos estamos a serviço de todos. No que diz respeito ao tratamento das pessoas, você é, sem exercer a si mesmo, satisfeito com o que você tem à mão. Entretanto, embora nos esforcemos, as pessoas te amam mais do que a nós. Qual é a razão para isso?
1ª Resposta: Há muitos que servem esperando gratidão em troca de seus serviços. Não são poucos os que são gratos a servir as pessoas. Se você ver as pessoas que servem como um dom e ser grato àqueles a quem você está servindo, então todo mundo gosta de você e reduz-se o número de queixas.
2ª Pergunta: Nós ouvimos que você foi treinado por Khidr. Como isso aconteceu?
2ª Resposta: Há alguns servos de Allah que o amam e Khidr os ama.
3ª Pergunta: Ouvimos dizer que você abandonou o zikr[1]hafi[2] e estava realizando o zikr jahri[3]? Qual a razão para isso?
3ª Resposta: Ouvimos que você praticava o zikr hafi. No entanto, se temos sido capazes de ouvir isso, então o seu não é hafi, pois a peculiaridade do zikr hafi é de que ninguém pode ouvi-lo. Uma vez que ambos os zikr estão sendo ouvidos e conhecidos, então eles são os mesmos. Na verdade, nesta fase, o zikr hafi esta mais perto de hipocrisia do que o zikr jahri.
Outra vez, ele explicou a razão do porque que ele preferia o zikr jahri. “O Profeta de Allah (que a paz e as bênçãos estejam com ele) nos ordenou anunciar as palavras de unidade (La ilaha illa Allah) no nosso ultimo suspiro isto é chamado halet-i nez. Tasawwuf (Sufismo) significa considerar cada respiração como se fosse o ultimo suspiro. Por esta razão, não há problema em executar o zikr jahri, certamente, este caminho é melhor”.
Um dia, Bedreddin Meydani perguntou:
“O verso ‘Ó crentes, mencionai frequentemente Allah’ (Alcorão 33:41[4]) refere-se ao zikr jahri?” Ali Ramiteli respondeu: “Isto é jahri para aprendizes e hafi para especialistas. Isto é com a língua no principio e com o coração ao final.”
Ali Ramiteni via a fé como um assunto de entusiasmo e emoção. Quando ele foi perguntado “O que é fé?” ele respondia: “A fé é fazer um esforço e então alcançá-lo. É fazer um esforço sobre o masiva (tudo exceto Allah) e alcançar a Verdade (Allah).
Ali Ramiteni foi cuidadoso sobre "Vera", que é descrito pelos sufis como a verificação da conformidade das coisas que entram pela boca e aquelas que saem da boca com Allah e Seu Profeta. Ele dizia: "Tome cuidado com duas coisas: aqueles que entram em sua boca enquanto come, e aqueles que saem de sua boca enquanto fala."
Ele dizia que existe tanto uma indicação e boas-novas no verso "Ó crentes, voltai, sinceramente arrependidos a Allah" (Alcorão: 66:8[5]). A indicação é de arrependimento, as boas-novas são para a aceitação do arrependimento, se o arrependimento não fosse aceito, não teria sido ordenado.
Ali Ramiteni considerou que estar confiante sobre as boas obras era inaceitável, e que ele iria dizer que todos devem ser ligados as boas obras e executá-las corretamente, enquanto ainda estivessem vendo a si mesmo suas boas obras estavam incompletas, mas deveriam continuar a praticar boas obras.
Ele também disse que aqueles que lidam com a formação da comunidade devem reconhecer as habilidades e as deficiências dos alunos, como um domador de leões. O Murshid[6] deve agir da mesma forma como o domador de leões, ou seja, de acordo com as propriedades do animal/pessoa que está sendo treinado. Se o Murshid não faz isso não pode ser bem sucedido.
Em outro caso, comparando o Murshid com um treinador de pássaros, Ali Ramiteni disse: "Um treinador deve saber a quantidade de alimento que o pássaro precisa e quanto eles podem segurar. Alimentação excessiva ou deficiente é prejudicial. O Murshid devem nortear o murides no zikr e mortificação (dos desejos mundanos) que diz respeito à capacidade dos murídes. A instrução precisa nem ser deficiente, nem excessiva, porque então ela será ou não suficiente ou excessiva para a murides. "
Ali Ramiteni sabia que no caminho para chegar à Verdade (Allah) deve-se entrar um coração. Para wuslat (união com O Amado), os murides devem ser submetidos a muitas dificuldades.
No entanto, existe outra forma de wuslat que permite a alma chegar com rapidez e precisão no destino. Este é entrar em um coração que se dedica a Allah. Esses corações são nazargah-al'ilahi. Tais pessoas são amantes de Allah, que levam as pessoas à verdade. É necessário entrar nestes corações, amando e sendo humilde na frente deles.
Um dia, o sheikh Rukneddin perguntou a Ramiteni: "Em Bezm-i elest, foi quando o discurso divino ‘Não é verdade que sou o Vosso Senhor? ’ (Alcorão: 7/172) fora entregue, as almas.” Ramiteli afirmou, respondendo: "Sim. No entanto, no Dia do Julgamento, ninguém será capaz de responder à pergunta: ‘Há quem, pertencera, nesse dia o reino?’ (Alcorão: 40/16) Por quê? "
Ramiteni deu a seguinte resposta: "Bezm-i elest é o dia em que a Sharia[7] foi oferecida as almas. Na Sharia é necessário falar. Mas, no Dia do Juízo Final, a oferta não será mais válida. Por esta razão, não haverá fala naquele dia. E Allah, Todo-Poderoso vai responder a essa pergunta.”
Ramiteni apresenta também alguns poemas do Reshehat além da narração de muitas obras de reflexão.

Altinoluk
2008 – Jan/Fev. Artigo nº 9 pag. 44

[1] Relembrar Allah através da recitação de Seus Santos Nomes.
[2] Zikr silencioso e secreto.
[3] Zikr Vocal e aberto.
[4] Para tal tradução do significado usei a contida em HAYEK, Samir E. Alcorão Sagrado: Os significados dos versículos do Alcorão Sagrado.
[5] Idem.
[6] O guia espiritual e treinador.
[7] Lei Divina segundo a teologia islâmica.

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